Divertida/Mente1
A melhor tradução para “Inside Out”, de 2015 dos estúdios Pixar/Disney (Divertida Mente) talvez fosse INTERNA/MENTE. A própria Disney sugere na narrativa desta animação de Pete Docter (criador de Toy Story, Wall-E, Monstros S.A. e Up), premiado com o Oscar em 2016: o que se passa “dentro” de nossas cabeças quase nunca é divertido.
A história é simples: a vida de uma garota (Riley) se transforma em um drama quando sua família troca a pacata e gelada cidade americana de Mineápolis pela agitadíssima e cosmopolita São Francisco. Tudo dá errado: a casa é acanhada e mal cuidada, o caminhão de mudanças não chega e a nova escola assusta. Nossa heroína se vê sozinha e com uma enorme saudade de sua cidade Natal. Resultado: Riley deprime com sérios comprometimentos cognitivos, de humor e da vontade.
Esse é o ponto de partida da animação que passa a apresentar um “universo paralelo”: a “consciência” de Riley, como se fosse a torre de comando de um aeroporto. Lá convivem a Alegria, o Medo, a Raiva, o Nojo e a Tristeza, todos representados como personagens. A Alegria desponta como líder do grupo, desesperada com a angústia de Riley e sempre preparada para tentar saná-la. É isso que a move para uma jornada pelo cérebro da garota - em dupla com a Tristeza – quando DIVERTIDA MENTE se transforma no que há de mais moderno em termos de Neurociências e suas explicações para o funcionamento de nosso psiquismo.
A animação aposta na teoria da evolução criada a partir dos achados de Charles Darwin, que vieram para ficar desde a segunda metade do século XIX! Para este pesquisador e teórico inglês nossas vidas são permanentemente guiadas pela tentativa constante de adaptação. DIVERTIDA MENTE abraça essa teoria e a estende ao nosso psiquismo, mostrando como sentimentos aparentemente negativos como a tristeza são necessários como moduladores.
Nisso entra o conceito de cognição como base para a consciência de Riley. A COGNIÇÃO pode ser entendida como sinônimo de conhecimento – desde a aquisição, passando pela integração e a associação do mesmo – com a finalidade de indicar as melhores escolhas perante cada situação de nossas vivências.
Na Psiquiatria, o conceito de cognição também envolve a ideia de adaptação decorrente das funções que coletam informações via sensação, percepção, armazenamento, análise e julgamento. Assim, estão envolvidas desde as atividades mais elementares até as superiores, corticais que compreendem o campo da inteligência.
No caso de Riley, o quadro “depressivo”2 mostrado compreende exatamente os mesmos aspectos cognitivos que examinamos na clínica da depressão: a atenção, a memória e a função executiva.
A atenção pode ser entendida como a capacidade para orientar e sustentar o foco em determinada ocupação. A memória abrange a capacidade da busca consciente de dados guardados (declarativa) e à recordação automática, de elementos mais instintivos (procedural). A função executiva envolve a manipulação de informações para o planejamento e a tomada de decisões, além da atividade psicomotora que na depressão está diminuída.
Riley mostra os três aspectos descritos acima comprometidos e na articulação entre todas essas funções é que a trama de DIVERTIDA MENTE avança, para um inevitável final feliz. Em sua aventura pelo cérebro, pela mente e especificamente pela consciência, essa animação mostra como cognição é diretamente marcada pelos afetos, emoções e sentimentos que nos guiam sempre em direção ao que queremos ou... Devemos saber1.